quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Escrever é a única forma de calar as vozes de dentro da minha cabeça.

domingo, 18 de setembro de 2011

Tá entendendo?

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Vou te contar, cara, mas você tem que prestar atenção, mas eu quero atenção mesmo, tá ouvindo? Olha, o negócio é você separar as pessoas, não é difícil, é só olhar pra alguém e separar tudo de ruim e de bom. Todos nós temos tudo de ruim e de bom. Você tá entendendo? – e ele ficava assim, neste “você tá entendendo?”, como se eu fosse muito burro pra não entender o que ele queria me passar, ou repetindo “tá me ouvindo?” como se eu fosse surdo, gesticulava com as mãos, sua camisa branca suava, o suor fazia seu rosto brilhar – Daí você vai e se aproxima das pessoas que acha que valem a pena, vai e se dá bem com elas, vê se vocês têm os mesmos gostos e começa a curtir a vida, conversa, bebe, transa, dança, noites sem dormir, dias dormindo, e por aí vai... só que aí tem um problema: quando você se aproxima, tudo começa a feder, acontece que as coisas ruins começam a se mostrar, acontece que a intimidade permite que se mostre o veneno, a parte amarga de cada pessoa, tem gente que aguenta, já tem gente que larga tudo e parte pra próxima, daí começa tudo de novo, se aproxima de alguém “bom” e “bacana” – mas que vai feder tudo de novo, tá me ouvindo, porra? – sempre quando ele dizia “porra” me dava um soco no estômago, tremendo filha da puta – cara, você tem que dar um jeito nessas vozes que tá ouvindo antes que fique doido de vez, eu tô aqui falando e falando e falando coisas da vida e você tá aí... não tá? Tá entendendo? – eu odeio quando ele fala das vozes que escuto como desculpa pra me socar ou falar que não tô ouvindo, ele sabe da minha mania de não olhar na cara das pessoas quando elas falam demais, é automático, e já expliquei isto mil vezes, merda – então, quando achar alguém que comece a te mostrar seu lado podre, fique com ela, pelo menos ela é sincera, cara, é foda achar alguém sincero nesta bosta, e você sabe disso, e agora eu tô sendo sincero com você, tá ouvindo? – as vozes começam a gritar dentro de mim, aperto as mãos, mordo os lábios, merda-merda-merda – preciso saber se você tá me entendendo! Porque quem fede, meu amigo, quem fede é quem possui luz. E luz é tudo nesta vida. Essa vida é apenas um espaço vazio, não-não-não, você não olhando na cara acabo me distraindo, a vida é apenas dois nadas, um antes e outro depois, saca? Tô esperando meu segundo “nada” chegar, vai ser ótimo... mas, aqui, quando achar alguém que te mostre o lado podre com toda sinceridade que cabe numa pessoa, lá do íntimo da alma, você precisa agarrá-la e não deixar ela fugir NUNCA! Ouviu? Eu disse nunca! Acontece que nem todos aguentam – “você vai falar de mim pra ele?” Não. Merda. Quero ouvi-lo, fique quieta... “Mas eu não concordo com o que ele diz! Ficar com gente podre? Até parece!” Vozes desgraçadas! – olha, sei que é difícil, mas passa, nem todos aguentam lidar com o podre, tem gente que prefere sempre o lado limpo, mas fique com o podre sincero e deixe de lado o positivo cretino, no final, você vai me entender, já perdi tempo demais com pessoas que se mostravam boas, daí me fodi por me deparar com verdadeiros cretinos, enquanto aqueles que se mostravam sempre podres, continuavam podres, podres e sinceros, é como se a podridão, afinal, fosse limpa! – “vai, quero saber afinal o que é esse podre”, tá bom, porra, vou perguntar – esse podre? Esse podre é o que a pessoa guarda lá no fundo da alma, onde só ela alcança, todo mundo tem algo que se envergonhe, este é o podre da pessoa, o nosso interior é repleto de escuridão, o podre é a morada do inferno dentro da pessoa, entende? Se alguém te mostra isto, por que fugir? Você me mostrou seu lado podre: estas vozes que tanto te perturbam um dia vão te matar, você – “eu vou te matar? Este cara é um idiota!” sei que vocês não vão me matar, agora, fica quieta! – sabe muito bem disto que tô falando, né? A vida é boa, cara, você tem que começar a curtir e não dar bola pra essas vozes que um dia elas param – “não vou parar”, tá, sei disso – e quando isso acontecer quero ser o primeiro a saber, viu? A vida é questão de olhar, sempre há podre e um pouco de limpeza em cada pessoa, entende? Tá me ouvindo? É tudo questão de olhar, se você quiser ver o podre, verá o podre, se quiser ver o lado bom, verá o lado bom, mas tente se lembrar sempre que se procurar luz no abismo, certamente é um pouco de você mesmo que irá encontrar... tá entendendo?

Y.

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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Editors

Editors
Música: An End Has A Start


"I don't think that it's
Gonna rain again today
There's a devil at your side
But an angel on her way"






Uma das minhas bandas favoritas da atualidade...
Discos podem ser baixados aqui: http://ceradofone.blogspot.com/search/label/Editors

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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Caio Fernando de Abreu

Preciso de Alguém...

Meu nome é Caio F.

Moro no segundo andar,mas nunca encontrei você na escada

Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas.

Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da conha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão. (...)

Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.

(Caio Fernando Abreu - Crônica publicada no “Estadão” Caderno 2 de 29/07/87)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Rui Nunes

“Não tenho paciência para ouvir os outros, não tenho paciência para viver, não tenho paciência para morrer, estou aqui, parada, num desequilíbrio interminável, nunca mais acabo de cair, irrito-me se me falam, sofro se me não dizem nada, odeio o gesto caridoso: a mão de alguém nos meus cabelos, o que eu quero é uma voz que me queira, um momento de descanso nessa voz.”

Rui Nunes

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